quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Enquanto escrevo isto, me ocorre que a peculiaridade da maioria das coisas que consideramos frágeis é o modo como elas são, na verdade, fortes. Havia truques que fazíamos com ovos, quando crianças, para demonstrar que eles são, apesar de não nos darmos conta disso, pequenos salões de mármore capazes de suportar grandes pressões, e muitos dizem que o bater de asas de uma borboleta no lugar certo pode criar um furacão do outro lado de um oceano. Corações podem ser partidos, mas o coração é o mais forte dos músculos, capaz de pulsar durante toda a vida, setenta vezes por minuto, e não falhar quase nunca. Até os sonhos, que são as coisas mais intangíveis e delicadas, podem se mostrar incrivelmente difíceis de matar."

Coisas Frágeis - Neil Gaiman

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pérolas Vespertinas III

Doce e sombria tarde. Já me esqueci o quanto admirava as tardes, ensolaradas. Agora só vejo o cinza dos meus dias, e a chama dos meus desejos. São os contrastes que me mantém viva, são os contrastes que ardem...
Olhou-a de longe, o garoto dos lírios já havia caído da escada, só restava aquele olhar curioso; faminto. Só de pensamentos não poderiam mais viver.
Tardes em vão passou a esperar, tardes sonhava com as mais sutis palavras, com os mais tímidos olhares, mas tudo tão intenso, tudo tão íntimo.
Coisas efusivas lhe irritavam, coisas demais lhe irritavam. Gostava da sincronia das coisas, aquilo que não precisa ser dito, era só questão de sentir, era só questão de sorrir.
As borboletas ainda estavam ali no estômago, sua boca ainda sangrava, ainda dançava o mesmo tango descompassado, ainda as notas de piano martelavam em sua cabeça...sentia bons ventos.
E gostava de repetir as palavras, para que o seu cérebro memorizasse, para que não esquecesse.
O céu, céu, céu, céu, céu; olhava para o azul, as nuvens, sentia o aroma de uma tarde linda que contemplava sozinha. Agora é só saudade, falta, ausência por cada canto, mas ainda tinha verdes esperanças.
Era uma pedra, muitos diziam uma "pedra preciosa", sim, preciosamente perigosa. Sempre inconstante, tempera-mental e acima de tudo doce, tão doce que preferia o amargo.
Uma montanha de açúcar, que derrete com a chuva, adoça os boeiros da cidade. Mas quem irá beber dessa água?
Perguntava para si mesma se as coisas iriam continuar, se permaneceria sem rumo, a admirar as coisas tão pequenas e esquecidas.
Se iria enfrentar seus demônios de vez, em vez de acompanhá-los. Se deixaria de permanecer oculta, pois tudo é permanência, tudo está fixo em seu coração; por anos, sempre a aguardar, mas é tanto tempo, apenas é e pulsa cansado.
Suspiros; parece que falta ar, parece que falta alguém para roubar o ar.
Chamas envenenando minha essência, essa tarde não quero mais ser terceira pessoa.
Quero união, estou cansada de colar fragmentos de emoções do passado.
Passar crepúsculos e crepúsculos alegre com o que vem depois, em vez de diminuta sonhar apenas com a aurora.
Espero que isso não passe de uma confidência surreal, sem sentido e sem efeito. Como outrora continuo querendo a simplicidade.
Flores, campos, montanhas, apenas momentos de luz.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Outono

Sentou-se no banco frio, repousou o rosto sobre as mãos quentes.
Como um porto, chegadas e partidas, e tantas partidas.
Sozinha;
a esperar pelas alvoradas mornas.
a esperar por doces noites...
mas estava sozinha, mesmo diante de tudo.

"y siempre ella estaba en el muelle
esperando
Muchas tardes se anidaron
se anidaron en su pelo
y en sus labios."

sábado, 18 de setembro de 2010

Uma parte de mim ficou lá, entre as sobras, entre os sorrisos amargos.
E o que eu mais desejava apenas pulsava, aqui dentro; calado.