«...Eu bem suspeitava que um dia me havias de aparecer.
Esperava-te com uma paciência sem limites, calma.
Devora-me.
Deforma-me à tua imagem, a fim de que nenhum outro,
depois de ti, compreenda a razão de tanto desejo.
Vamos ficar sós, meu amor.
A noite não acabará.
O dia não voltará a romper para ninguém.
Jamais. Nunca mais. Por fim.
Matas-me. Fazes-me bem.
Choraremos conscienciosamente
e com boa vontade o dia defunto.
Nada mais teremos a fazer senão chorar o dia defunto.
O tempo passará. Apenas o tempo.
E mais tempo há-de vir.
O tempo virá em que não saberemos
que nome dar ao que nos unirá.
O nome apagar-se-á a pouco e pouco da nossa memória.
Depois desaparecerá por completo.»
Hiroshima, Meu Amor - por Alain Resnais