domingo, 23 de dezembro de 2012

Ela queria chorar aquela noite, mas apesar de seu temperamento poético que aflorava com o avanço da escuridão, não conseguia nem uma lágrima. Música mudava completamente seu estado de humor, devido a isso não escutava mais Chopin. Estava lendo algumas frases de Milan Kundera, que sempre achou ser mulher e russa e o ar se deprimiu a sua volta, a sua alma ficou presa nas palavras. Resolveu escutar Chopin e seu espírito doía com tanta beleza. Lembranças, de ontem, de muito tempo atrás. Estava presa em um tempo que só existia para si mesma, onde buscava conforto e identidade. Quanto tempo demoraria para ter alguma doença mental? Sempre achou justo, dada a torrente de pensamentos de sua mente. Se sentia tão triste e sem motivo, era alguma coisa bela pensava...melancolia como notas de um piano. Fechou os olhos e tudo ficou tão intenso, era a solidão que a escrita não permitia ficar calada. Suspirou, estava meio adormecida e tantas imagens se formavam dentro de si. Era a vez de Debussy e a madrugada deitou-se de costas para ela. E a noite ébria lhe cobria e beijava-lhe a face. Pensou em um manto feito por Klimt e fez Satie dançar, era o seu rivotril.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

bells for her

Então aqui estou com a aquela imagem que não me sai da cabeça, meu olhar perdido para a superfície de um lago. Mais um ano e muita nostalgia, pessoas para reencontrar e confusão, porque interagir nunca foi meu forte. E cá estou eu lutando contra os sentimentos mundanos, tentando manter uma boa relação e sempre errando. E a introspecção voltou forte, pessoas me deixam inquietas, sua energia, seus problemas, hoje sempre existem problemas! E uma faculdade pra terminar, e um emprego pra conseguir, e mais um pouquinho de terra pra enterrar a vida amorosa. Porque dizer o que se pensa também não é meu forte. Meu forte é brincar de esconde-esconde com os sentimentos puros.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

La plage

Não é facil ir embora e voltar, Diante do novo tudo é lucro, mas quando se volta nada é. Isso se resumiria a mente, a minha, posso me enganar por um longo tempo, mas as coisas que evito estarão sempre lá. Uma música, um perfume, um gesto, uma palavra, e voilá, é como retornar no tempo, um instante cheio de significado. Me inventei,  me visto com cores vibrantes e faço guerras psicológicas, quando o que mais preciso é não ter identidade. Só um pouco de loucura misturada com lucidez. Construímos nossas próprias prisões, e será que realmente temos as chaves?

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A chuva caía fina e firme
Preenchia toda a segunda
Era um dia de reencontro
Passou pelo portão e observou de longe
Seus gestos eram os mesmos
Distração mostrando insegurança
e lá estavam abraçando uma situação silenciosa
Eu poderia tocá-la e segurar em minhas mãos aquilo que estava no ar
Há razões que expliquem a distância?
Mais um novembro, mais encontros
Despedidas
Um dia sem definição
um fluxo interminável de pensamentos
Sempre uma caminhada ao desconhecido
uma energia desconcertante
um sorriso depreciativo
um sinal em forma de pessoa



terça-feira, 11 de setembro de 2012

Espelho

Sou prata e exato. Eu não prejulgo.
O que vejo engulo de imediato
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, tão somente veraz —
O olho de um deusinho, de quatro cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.

Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.


Sylvia Plath

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Quilômetros, horas, espaço, tempo podem caracterizar a distância, mas nada pior do que a distância dos sentimentos de quem se tem ao lado, sem extensão, no todo imperscrutável.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

"Seu estado de espírito precisava da solidão e do silêncio que só a multidão pode dar"

(Anne in: Persuasão, Jane Austen, Ed. Martin Claret, p.523)

sábado, 7 de julho de 2012

Nunca escrevi um diário, bem já escrevi algumas coisas, mas a consistência dessas coisas não expressavam sentimentos, fatos importantes, impressões. Quando lemos um livro que gostamos, não lembramos de todos os detalhes, das frases ditas pelos personagens, mas é possível voltar naquelas páginas e encontrar o que nos tocou, o que gostaríamos de memorizar ou mesmo destacar em um pequeno pedaço de papel. Um diário seria mais ou menos a mesma coisa, talvez um pouco diferente, só que estaria escrito fragmentos, idéias, pensamentos que flutuam pelo nosso cérebro para longe, mas com o tempo estão meio perdidos com tantas responsabilidades, compromissos, outras emoções. Como iria lembrar daqui a dez anos da sensação de um abraço em meio ao som  dos trilhos do metrô refletindo distância tão literalmente quanto de forma imaterial, um adeus coincidente, perfeito com a situação; ou a expressão natural de tristeza das pessoas em um velório em que você brinca ao redor do caixão sem entender bem o que estava acontecendo, pois tudo ainda era tão novo e mundo estava tão acima; da saudade, Deus meu, que sensação, o som do vento, a tonalidade das tardes, o modo como a chuva caía, o formato do sorriso, os telefonemas, os cafés, encontrar a casa vazia, escutar a voz de alguém especial quando ainda nem havia acordado, as surpresas, convites, a maresia, cartas, cartões postais, as ruas, a solidão. Essas coisas pequenas são perpétuas. Muitas vezes tenho a sensação que tudo o que gosto, o que faz parte da minha identidade, jamais verei de novo, de forma que eu possa dar mais valor as pessoas. O vazio é tão grande, e você pensa no que fez, no que não fez, e o quanto isso irá lhe acompanhar pela vida inteira; às vezes isso me sufoca. Se estivesse conversando com um analista eu diria que o meu maior medo é da perda e da consciência dela, porque a partir do momento que eu pensasse que eu não poderia fazer absolutamente mais nada, isso iria me arruinar de tal forma como uma casa destruída; aqueles blocos sólidos em total desarmonia em que você olha e só pensa em tirar aquela coisa imperfeita, confusa dali. Vivo em um momento de desconstrução, talvez meu maior medo não seja da morte e toda essa coisa seja uma forma de exteriorizar as impressões que possuo; estou submersa em muitas possibilidades que se misturam a liberdade, vícios de emoções e pensamentos, desde pessimismo, esperança, desatenção, desejo, desapontamento, falta de interesse, devaneios, cansaço, cansaço, cansaço, cansaço. Há tantas coisas que me motivam a viver e coisas que em  momentos desatentos me fazem mal, e isso é tão forte quanto as coisas que podem lhe trazer mais significados. E esse é o problema, procuro significado desde o pão que compro até na escolha do meu sabonete, como se alguém estivesse interessado no modo em como eu não coloco açúcar no café, ou quando eu me sinto absurdamente feliz quando um livro está escritos coisas que eu sinto, mas daquela forma estranha, difícil de entender a primeira lida, mas está lá, sensível, pontual, incrível, temos em nossas almas a mesma impressão, ou enquanto escuto Nina Simone desarmonicamente com tudo isso.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Não sou irresistível

Me visto com idéias, pinto minha face com sonhos.
Já se foi o tempo que a mulher era um esboço,
uma folha em branco, ou qualquer coisa mutável.
Minha identidade não precisa de cores, laços, saias apertadas.
Sou parte do tempo e me moldo conforme minhas convicções
liberdade não é escolher, apenas ser.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

A energia do Beijo


The kiss -  Rowan Fergus Meredith Gillespie

Não foi o beijo em si que a havia agradado e sim a energia que vinha dele, no espaço em que os lábios quase se tocam, uma atmosfera surreal que antecipava aquele ato, um momento repleto de intimidade e desejo, e era tão forte quanto o próprio beijo em si.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

27 graus em Joinville...

...em pleno inverno, pois o dia 28 de maio para eu é inverno! Romances bobos, vinho e doces de confeitaria era o que estava em minha mente, mas na verdade, trata-se de uma segunda-feira de trabalho sem ter nada o que fazer a não ser imaginar encontros românticos e conversas filosóficas como preliminares. Ao mesmo tempo que a diarista sonha com um antigo amor da Espanha e toca Marisa Monte no rádio. Há alguns minutos atrás fui comprar meu almoço em um mercado absurdamente caro, que fica em uma rua repleta de características burguesas: lojas caras, Yoga, centro de estética, nada muito funcional. O telefone toca (corro)...marcar limpezas de pele e depilação não me deixa nem um pouco satisfeita ou feliz (tem diferença?). Trabalhar não me alegra, pois sempre fico pensando nas inúmeras possibilidades de coisas que poderia estar fazendo, e então imediatamente lembro que sem dinheiro não iria conseguir fazer absolutamente quase nada. Tudo isso se passa enquanto tento entender o tal quadrado de Punnet ao som de Zezé di Camargo e do polimento do carro da lavanderia ao lado. E o mais engraçado disso é que estou em um ambiente repleto de mulheres que gostam de ler colunas sociais, acham tudo da Carmen Steffens maravilhoso e só pensam em transar com caras ricos, enquanto eu tento conceituar cultura depois de ler um livro de introdução a antropologia. Tudo bem que uma vida de intensa leitura e sem sexo não se compara a roupas caras, carros luxuosos, festas e flashes. Não consigo me livrar da estranha mania de acreditar que um dia estarei em uma casa decorada por mim, cheia de elementos que me lembrem todos os bons momentos da minha vida, ao lado de alguém que eu tenha liberdade para falar o que bem entender, com que eu posso passar madrugadas conversando e tomando um bom vinho. Para quê mais? Isso é semiótica. Sem mais explicações. O mundo já é cheio delas; há explicações porque você deve continuar no seu emprego, em um relacionamento, numa faculdade, até mesmo quando tem que pegar um ônibus. Um ciclo, sistema, lógica, padrão. Já estamos desgatados com isso. Mudar de cidade, distante da família, dos amigos, caminhando por ruas nuncas antes pisadas, comendo em lugares que você não conhece, itinerários novos, economia geral, divindo o apto com estranhos e se estranhando, com uma sensação de solidão percorrendo todos os cantos, além do anonimato, é assustadoramente perfeito.

sábado, 19 de maio de 2012

Amiga porque não vem tomar um chá?

Estava tudo preparado, a mesa havia sido posta no quintal com as louças chinesas recém compradas, o chá estava pronto e quentinho, o cheiro de canela se espalhava pela gostosa tarde de domingo e o sol brilhava como uma lembrança de outra vida. Tudo pronto, mentalmente.

Passar um dos poucos sábados de folga enfornada dentro de um quarto pálido enlouquece, enquanto sua mãe não dorme a 300 km dali pensando nas suas idéias suicidas. Na falta do que falar diga que vai se matar. Mas como exteriorizar toda aquela vontade espiritual de perder-se em um telefonema? Era melhor dizer que nada tinha mais sentido e que prédios altos estavam infestando sua mente. Os últimos três anos se acumularam naquele mês de maio, onde gostaria de mandar todos para o inferno, mas a minha estranha educação não permitia. E neste mês aliás as palavras "sistema", "sociedade" e "consumo" foram repetidas inúmeras vezes pra tentar explicar o que estou sentindo. Talvez outras também expliquem "saudade", "sexo", "amizade", "café", "inspiração", "umidade", "cuca alemã", "odeio zoologia", "mar", e tantas outras, poderiam definir o que corre pelas minhas entranhas, além de acidez. Na procura desesperada pelo o que realmente anda acontecendo comigo excluindo as coisas clichês de sempre, resolvi escrever. Tenho pensando muito nisso, talvez Clarice Lispector precisasse escrever pois o que tinha dentro de si era demais, mas para quê escrevo? Será que para explicar que sou uma desajustada e a única maneira que encontro liberdade é através da escrita, como escrever a palavra cú, pequena e complexa, mas com significado pesado. Ou quem sabe essa seja a única forma de chamar minha chefe de alguma espécie de nazista ou puta. E como explicar a vontade de sair dançando pelas ruas como se fosse um musical? De tirar fotos nua? Essa coisa meio nonsense, surreal, anda em minhas veias. Rotina me cansa, e a culpa me afunda. Mesmo neste estado deprê, tenho que concordar com a Björk:  "There's more to life than this." E é isso que me move, de repente alguma coisa acontece e pronto: cadê a vida que eu levava? Iria para qualquer lugar do mundo se soubesse que dormiria mais de 8 horas por dia. Mas o que eu queria mesmo dizer é que sinto falta e a saudade me inunda.

segunda-feira, 7 de maio de 2012


Há momentos que me sinto suspensa em águas tranquilas onde meus pensamentos fluem sem direção como se a vida fosse una. Gostaria de estar caminhando por vastos campos, onde o frio e cheiro de café fizessem parte do meu dia. Sinto uma imensa falta das coisas simples onde o que importa é apenas olhar para o horizonte. Meus amigos estão espalhados vivendo as suas vidas; as pessoas em geral seguem o seu rumo enquanto eu quero parar.  Esse sentimento sempre me acompanhou; encontrar sempre me fez querer voltar e ser feliz me fez sentir saudade da tristeza. Existe um porque explicável para tal insatisfação, ou então eu seria absurdamente ingrata.  Há situações que me deixam transitável, mudanças me deixam um pouco enojada, amigos negligentes também.  Minha vida se transformou em um caos calmo quando resolvi fazer as malas e ver no dá. De uma bolha fui para a outra. E o que mais preciso é de atenção, do tipo que perguntem se estou viva. Viver nessa cidade ensolarada perde todo o romantismo.  Passar o dia esperando por noticias enquanto se é a noticia é tremendamente chato.  As coisas acontecem naturalmente enquanto você é um intruso. O mundo se explica aos seus olhos sem você perguntar nada. Não há poesia, nem toque de sinetas. As tardes não tem cor e o choro é terapia. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Uma


  1. Olhou para foto, novamente mais uma foto ruim. O vento da cidade não deixava nada permanente, tudo era arrastado de um lado para o outro, assim como seu cabelo. Tirar uma foto 3X4 significava mudanças, era por isso que estava preocupada. Havia passado semanas pensando no tipo de coisa que a faria feliz, não uma felicidade longa, mas tranquila, sem muito tumulto, sem sofrimento, porque pra ser feliz também é necessário sentir dor. Ela estava próxima da gaiola da felicidade, seus passos somente eles lhe acompanhariam durante o dia, e todas as coisas que faziam dela o que era iriam se modificar, não seria mais preciso utilizar suas máscaras, elas seriam substituídas por outras, essas sim lhe mostrariam o gosto real do tempo. Anotou alguns lugares que deveria visitar, se apresentar e utilizar toda a esperteza para sobreviver. Estava ansiosa, animada e enjoada. Felicidade é a mistura de todas as coisas, as boas e as ruins. Não sabia o que lhe iria realmente acontecer, se iria sorrir futuramente ou chorar, mas algo iria acontecer, e isso já bastava. 
  1. Ficou imaginando por dias as possibilidades que lhe desenhavam a sua volta, imaginou a sua vida de diversas formas. Primeiro decidiu pensar que deveria ser sempre sincera e autêntica, sem tentar persuadir ou tomar uma imagem que não é sua; também pensou em manter o silêncio, falar quando necessário, algo entre uma atitude passiva estudada; e sim sempre havia sua versão meio demente, onde a loucura teria espaço e a sua opinião também, como encarar a vida sem medo. Ás vezes em sua cabeça havia uma voz que lhe dizia pra ela continuar, mesmo que todas as portas fechem, mesmo que as conversas acabem em não, ela devia colocar seus sonhos em primeiro lugar.  Ou quando  forças opostas lhe diziam coisas que ela poderia escolher.
  1. Momentos como aquele em que sentava no banco de uma praça qualquer, olhava para as pessoas e ficava imaginando o que as levaram até lá, se estavam pensando em seus filhos, no conforto da sua casa, em alguém que morreu, se estavam pensando como eu em que tipo de substância é feito o pensamento, e se alguém em algum lugar poderia estar sentindo o mesmo. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Assim que fecho os olhos e tomo consciência do meu corpo penso na ausência. A energia que me rodeia inebria, é sutil, plena, entorpece, a ausência também. Meus sentimentos são repletos de dualidades, bebo com carinho seus significados tanto quanto aprecio um bom vinho e suas notas. Carrego em meu peito as horas do passado, as sensações da alma que são atemporais. São apenas delírios que me colocam para dormir. E lá estava novamente cercada pela fumaça dos sonhos, sua forma, sua textura, poderia até sentir seu gosto seco e quente. Mas acontece que sinto a ausência das coisas tangíveis quando fecho meus olhos e quando os abro não há nada lá para olhar. Quando penso na ausência naturalmente associo a pessoas, são extensões de sentimentos, de motivos, das relações. E o que não posso medir? Posso delinear teu corpo, teu rosto, posso segurar as tuas mãos, mas tua essência me transpassa assim como água.