segunda-feira, 28 de outubro de 2013


Não sei se há mais maneiras de se ter esperança que a paciência, talvez o esquecimento. Tenho dito pra mim mesma que o otimista só sofre uma vez. Mas hoje eu lembrei de muita coisa e tive vontade de desistir. Paciência ou esquecimento podem resolver esse caso. 


 Laguna - SC



quarta-feira, 23 de outubro de 2013




"(...) convencida, como eu também o estava, de que um encontro casual era o menos casual em nossas vidas e de que as pessoas que marcam encontros exatos são as mesmas que precisam de papel com linhas para escrever ou aquelas que começam a apertar pela parte de baixo o tubo de pasta dentifrícia."

(O jogo da Amarelinha, Julio Cortázar: Capítulo I. 6 ed. Civilização Brasileira)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

"Há esperas que nunca se aprendem. Mesmo sob o dilúvio, continuaremos aguardando a chuva. É de outra água que esperamos."

(Mia Couto in: Venenos de Deus, remédios do Diabo. Companhia das Letras, 2008. p.140)

sexta-feira, 4 de outubro de 2013


Até então tudo havia sido um vago anúncio, Alana na música, Alana frente a Rembrandt. Mas agora minha esperança começava a cumprir-se quase insuportavelmente; desde nossa chegada Alana se havia entregado às pinturas com uma atroz inocência de camaleão, passando de um estado a outro sem saber que um espectador escondido espreitava sua atitude, a inclinação de sua cabeça, o movimento de suas mãos ou seus lábios, o cromatismo interior que lhe percorria até mostrá-la outra, ali onde a outra era sempre Alana somando-se a Alana, as cartas aglomerando-se até completar o baralho. A seu lado, avançando pouco a pouco ao longo dos muros da galeria, eu a ia vendo entregar-se a cada pintura, meus olhos multiplicavam um triângulo fulminante que se estendia dela ao quadro e do quadro a mim mesmo para voltar a ela e empreender a mudança, a auréola diferente que a envolvia um momento para ceder depois a uma aura nova, a uma tonalidade que a expunha à verdadeira, à última nudez. Impossível prever até onde se repetiria essa osmose, quantas Alanas me levariam por fim à síntese da qual sairíamos os dois cheios, ela sem sabê-lo e acendendo um novo cigarro antes de pedir-me que a levasse para tomar um trago, eu sabendo que minha longa busca havia chegado a um porto e que meu amor abarcaria a partir de agora o visível e o invisível, aceitaria o limpo olhar de Alana sem incertezas acerca de portas fechadas, de paisagens proibidas.

Orientación de los Gatos - Júlio Cortázar

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Ando meio desligada dos sinais que a vida sutilmente costuma dar, mas ontem mesmo distraída vi você num lapso de segundo, apesar de muito rápido tantas coisas me vieram à mente.

E faz tanto tempo que eu me comportei como uma idiota. Homens, minha capacidade de entendê-los é tão limitada, sou disléxica nesse ramo.

E não, não foi um estado agudo de felicidade como provavelmente pensaria Clarice Lispector. Foi como um remédio amargo que você precisa tomar pra cura, mesmo depois que você não sente mais o gosto, a sensação ruim fica lá pra sempre.


Essa música não é pra você.