sábado, 25 de dezembro de 2010

Eu consigo sentir
tudo se perder
nesse cenário
nesse cenário deslumbrante

O pôr-do-sol atrás das nuvens
cada gota de chuva
lembranças e maresia

Meus sonhos na palma da mão
um sopro
em direção ao infinito.

domingo, 19 de dezembro de 2010

E aí quais são seus planos?

Fotografar o fundo do oceano;
Mergulhar em alguma praia no inverno;
Aprender élfico;
Nadar nua;
Sussurrar coisas indecentes em francês;
Pilotar um avião;
Dar uma de mochileira pela América do Sul;
Dançar tango depois de uma briga amorosa;
Morar na Irlanda por uma semana;
Meditar com monges budistas na China;
Amar intensamente, e sentir isso até os ossos (plágio);
Esquiar;
Pintar o cabelo de azul;
Ser especialista na cultura celta;
Restaurar uma escultura, pintura, catedral, etc;
Escrever um livro;
Saltar de pára-quedas;
Comprar o escarpin amarelo que nunca tive coragem;
Viver um romance na Itália;
Reconhecer constelações,
Me embriagar e fazer amor;
Saber usar um mapa;
Ficar encharcada de chuva sabendo que alguém que eu ame me espera em casa
para secar meus cabelos;
Passar a noite sob as estrelas;
Morar em uma região montanhosa;
Desenhar mapas da Terra-Média;
Tocar piano de frente pro mar.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Porque demorei tanto tempo pra descobrir que queria ficar sozinha abraçada a minhas pernas enquanto minha cabeça derrete?

domingo, 5 de dezembro de 2010

Ensaio para fazer haikais

Dia de ano novo
Oferenda pra Iemanjá
Proteção pra quem já se foi.

Para se ter alegria
-Basta escutar a manhã-
No canto dos pássaros

Farfalha borboleta ligeira
sobre a louça chinesa
Repousa teu peso de cristal

Sobre as águas
deixa as ondas levarem tua mensagem - sem destino
pois tudo é efêmero


terça-feira, 30 de novembro de 2010

De tanto escrever
borrei os dedos.
Caí no esquecimento.
Só lembro do tempo em que
o Aroma do vento se misturava
a pó e cimento.

sábado, 27 de novembro de 2010

Pro meu coração: chega de saudade.

Pro meu corpo: chega de falta.

Pra minha alma: chega de sonhar.

Não vale a pena ficar chorando e resmungando pelos cantos. Quanto tempo se passou desde que parei de pensar? Quanto tempo se passou desde que esqueci de amar? Que o meu coração covarde começou a se machucar a cada passo não dado.
Lembro dos dias silenciosos em que queria gritar de qualquer modo o que estava sentindo, mas eu tinha um medo, de me perder por entre os meus devaneios. Sim, sempre tive medo do ridículo, do sentimento exagerado e superficial que saía de muitas bocas. Dos "eu te amo" sem amor, do convencionalismo bobo que é se apaixonar. Preferia ficar com o meu amor barato, tipicamente platônico, onde o que eu desejava acontecia. Por medo. Somente medo. Porque sempre quero mais, quero o mais intenso. Quero a verdade, mesmo que seja inventada.
Lembro que guardei e guardo isso tudo pra mim. Que me perdi na música, na dança, na literatura, nas cores. Minha compania eterna, a quem sempre me entreguei com interesse, com amor. Mas depois o que resta? Disfarçar frustação com arte, sempre foi uma boa estratégia, mas e agora que as responsabilidades me afastaram de tudo isso? Não é a toa que sou inconstante, que não me apego a realidade, que não paro em um emprego.
Não quero me desculpar pelos meus atos falhos. Acho que toda essa revolução que faço diariamente dentro de mim muito me serviu pra crescer, pra fortalecer meu espírito. Sim, vou continuar sempre a filosofar sem me chatear com isso, de falar de assuntos sérios sem se preocupar se isso encomoda o outro. De analisar, analisar e analisar o comportamento humano. Se me foi dado a sensibilidade de me ocupar com esse tipo de coisa, começo agora a aceitar isso. Cansei de tentar ser alguém agradável. Cansei de explicar o pouco que consigo pronunciar.
Vou continuar sendo essa hippie louca que não sai do armário. Que acredita que a estrada com seus perigos, as pessoas com suas histórias, são a representação do que é viver um pouco da verdade.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

"Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido."
Fernando Pessoa

terça-feira, 23 de novembro de 2010

As pálidas paredes do coração fechado

A procurar por palavras, frases, versos soltos, sempre acabo me deparando com o chileno Pablo Neruda. Pouco sei da sua carreira literária, da sua bibliografia. De tempos em tempos acabo lendo algumas de suas poesias. A impressão fica forte, cada palavra, cada sensação. Sei da sua preocupação política e o quanto isso influenciou sua obra. Mas são nos sonetos de amor de Neruda que encontrei em uma biblioteca esquecida(em que as obras de grande autores servem apenas para preencher as prateleiras), que me deliciei com seus versos em um dia nublado e frio de uma segunda-feira morna. Do sutil ao caos resumiria esse dia. Posso não estar sendo fiel a toda complexidade da obra do autor, muitas vezes só procuro sentir o que estou lendo ou o que meu coração consegue transferir para cada dimensão do meu corpo, que é muito mais que matéria. "Confesso que vivi" foi o primeiro livro que tive contato com a escrita de Neruda, lembro que a cada palavra me sentia nos bosques chilenos, e essa impressão permanece até hoje, como se regredisse para uma época que não vivi. Essa é a parte interessante do contato que tenho do autor, suas metáforas do mundo, suas vivências, seus versos reticentes, deixam grande impressões do mundo. Redescobrir isso no meio do caos, do cotidiano, do comum, deixa a existência um pouco mais leve, um pouco mais bonita.

“Talvez não tenha vivido em mim mesmo, talvez tenha vivido a vida dos outros.Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre – como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado.Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta.”

Pablo Neruda

domingo, 14 de novembro de 2010

Tempos bons se não houvesse dúvida.
Tempos ruins se só houvesse certeza.

Nos meus sonhos lúcidos confusos desejos.
Nos meus sonhos particulares; riso.
Respiração profunda.
Se houver algo agora para acreditar, mesmo que acreditar seja apenas acreditar.
E não uma verdade absoluta.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010


"Quando a última árvore tiver caído,
quando o último rio tiver secado,
quando o último peixe for pescado,
vocês vão entender que dinheiro não se come."

domingo, 7 de novembro de 2010

Ritual

No topo da montanha, o renascimento. Seu olhar vulgar sobre o divino (pausa). Deixe a névoa cercá-lo; bela manhã, dia de sonho. Sua flecha, sua escolha, sua honra. Coração de cavaleiro. Nos pulsos as serpentes.

Espalhe seu fogo. Acenda as tochas da salvação. Queime de novo. Céu e inferno em uma só noite. O ritual chama-o, ventos do destino.

Linhas vermelhas. O trajeto do rio muda com as ações dos homens. Sangue fluindo da terra. A chama ainda queima, o fogo se espalha lentamente.

As folhas caem, sua dança permanece nessa estação. Tudo está escurecendo. Oh! Sol! Novo dia! Nova era! O ritual anseia por você.

domingo, 31 de outubro de 2010

Na verdade nunca te amei

Um velho amigo me disse que só esquecemos alguém substituindo essa pessoa, isso porque é assim que nosso cérebro funciona. Te esqueci aqui dentro e não tem mais ninguém. Mas o que dizer de tudo que senti até agora? Será que foi apenas uma fuga, um devaneio por não querer amar de verdade? Criei tudo que podia imaginar; os gestos, as palavras, os beijos, os encontros a luz da lua. Me divertia; sim isso sempre me divertiu, muitas vezes doía, mas tenho o coração doce. Nunca te amei, inventei um amor, só faltou o sentimento. Foste um belo sonho. Estou me afastando, estou feliz, acho que o amor invadiu meu peito. Tudo reside aqui dentro de mim.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

sim o mundo é belo, talvez repita isso pro meu cérebro todos os dias. respirando mangás, enchendo a cara de café e sorrindo pra vida que se desenha em cada gesto. eu observo com meu jeito desligado essas coisas pequeninas e com um puta de potencial pra me agradar. tudo é muito simples, tudo é muito claro. do lado de fora, do lado de dentro. é como uma dança, você se envolve na evolução das batidas. o que eu quero dizer, eu não falo. mas tem dias que me sinto única. parece que tenho palavras pra tudo e pra todos. mas não há nada em particular que eu tenha vontade de falar. e essa sensação é tão boa. apenas sentir, apenas viver.

Is what I am today
Light me up

domingo, 24 de outubro de 2010

Poeira das estrelas

Sou vento.
Sinto as direções;
novo rumo.
Sou mar.
Sinto as ondas;
escolhas.
Sou terra e fogo.
Sinto o novo;
perdas e ganhos.
Sou coração.
Sinto o pulsar;
sonho.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Parsley, sage, rosemary, and thyme

Levantou a cabeça como se aquele movimento explicasse o que estaria por vir. Sentiu o vento mudando ao final de tarde, que junto com a noite trazia mistérios ou talvez fosse apenas um pressentimento. Subiu em seu cavalo na densa relva verde; acariciou seu pêlo macio e deitou a face sobre o dorso do animal. Fechou os olhos, e naquele momento único e solitário, a natureza o abraçava trazendo lembranças da feira de Scarborough. Quem seria aquela donzela que o observava timidamente enquanto agraciava o mundo com os mais doces acordes de harpa? Um cavaleiro como ele marcado pela guerra, pelo seu destino frio e honrado, ainda que o tempo o tornasse áspero, se sentia acalentado por aquele olhar. A donzela desconhecida despertou sentimentos há muito adormecidos e reprimidos por suas batalhas sangrentas.
“O que o levou aquela feira?” Pensava enquanto observava silenciosamente a colina. Sentia-se novo, Scarborough nunca mais seria a mesma, ele não seria o mesmo. Queria voltar lá, escutar os sinos ao longe, toda a agitação da cidade, e saberia que estaria perdido no meio de todos, pois seus pensamentos já não eram mais seus, estavam repousados sobre a doce face da donzela desconhecida.
Um trovador qualquer poderia cantar aquele sentimento; ele desafiaria todos os generais. Por amor o que um homem não seria capaz? Ela tecia seu caminho: aquelas flores em seu cabelo, não eram a primeira vez que as vias. O seu sorriso fazia lembrar de casa, quando ainda muito jovem apenas sonhava em ser um guerreiro e um dia encontrar um moça com quem poderia ser feliz e criar os filhos. Mas lá estava ela do outro lado da montanha; ela que um dia o pertenceu, e estranhamente sabia disso.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

I can be cruel

Pouco importa;
você pouco se importa comigo
pouco importa pra mim.
Mas no verão você está lá
e eu te caço, de volta pro meus pensamentos.
Eu posso ser cruel, mas você não pode comigo.
E eu quero ser cruel, quero te ferir de verdade.
Mas não posso, no fundo não posso.
Eu realmente posso ser cruel...
mas no fim, só comigo mesma
.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Devora (outra balada)

Tua respiração pesada no meu pescoço, dava para sentir teu tormento, o teu cansaço. Podes repousar pelos entre...entre meus seios, entre minhas pernas. Sem explicações, sem vontade de conquistar, sem compromisso, somente o este e agora. Estou cansada de tanto talvez, de tantos planos, de tanto cotidiano. Mas não quero algo morno, comum, medíocre. Quero teu sexo soberbo, tuas mais loucas fantasias; profundidade. Coisa de verdade e só. Quero um momento, que seja só teu, que eu te pertença e possas se apoderar de mim, sem medo. Sem aquele medo antigo, de que pode dar tudo errado, de que acabaremos mal. Isso ainda é pouco, a ilusão, os devaneios, tudo que sempre foi apenas imaginado, isso vale muito pouco. A matéria de que sou feita; sonhos, apenas sonhos e isso dói. Dói te ver em algum lugar distante de mim, não gosto de te dividir, não gosto de te ver nos braços de outra moça, e nunca te vi, mas eu penso e penso muito...e isso me enlouquece.
Se soubesses que sou apenas carne e osso, que tudo o que eu gosto, que tudo o que eu canto, e tudo o que penso não passa de uma cápsula protetora. Se pudesses ter mais que isso, se eu pudesse te dar mais que isso; e eu posso e quero. Mas teus sinais me confundem, por que já estais metido na minha confusão. Espero que não te assustes. Pois eu só quero você aqui, do lado esquerdo, repousando sua cabeça em meu átrio e ventrículo esquerdo, quero que faça parte da minha pequena circulação. Somos feitos de ar, só te ofereço o meu, ofegante.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Enquanto escrevo isto, me ocorre que a peculiaridade da maioria das coisas que consideramos frágeis é o modo como elas são, na verdade, fortes. Havia truques que fazíamos com ovos, quando crianças, para demonstrar que eles são, apesar de não nos darmos conta disso, pequenos salões de mármore capazes de suportar grandes pressões, e muitos dizem que o bater de asas de uma borboleta no lugar certo pode criar um furacão do outro lado de um oceano. Corações podem ser partidos, mas o coração é o mais forte dos músculos, capaz de pulsar durante toda a vida, setenta vezes por minuto, e não falhar quase nunca. Até os sonhos, que são as coisas mais intangíveis e delicadas, podem se mostrar incrivelmente difíceis de matar."

Coisas Frágeis - Neil Gaiman

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pérolas Vespertinas III

Doce e sombria tarde. Já me esqueci o quanto admirava as tardes, ensolaradas. Agora só vejo o cinza dos meus dias, e a chama dos meus desejos. São os contrastes que me mantém viva, são os contrastes que ardem...
Olhou-a de longe, o garoto dos lírios já havia caído da escada, só restava aquele olhar curioso; faminto. Só de pensamentos não poderiam mais viver.
Tardes em vão passou a esperar, tardes sonhava com as mais sutis palavras, com os mais tímidos olhares, mas tudo tão intenso, tudo tão íntimo.
Coisas efusivas lhe irritavam, coisas demais lhe irritavam. Gostava da sincronia das coisas, aquilo que não precisa ser dito, era só questão de sentir, era só questão de sorrir.
As borboletas ainda estavam ali no estômago, sua boca ainda sangrava, ainda dançava o mesmo tango descompassado, ainda as notas de piano martelavam em sua cabeça...sentia bons ventos.
E gostava de repetir as palavras, para que o seu cérebro memorizasse, para que não esquecesse.
O céu, céu, céu, céu, céu; olhava para o azul, as nuvens, sentia o aroma de uma tarde linda que contemplava sozinha. Agora é só saudade, falta, ausência por cada canto, mas ainda tinha verdes esperanças.
Era uma pedra, muitos diziam uma "pedra preciosa", sim, preciosamente perigosa. Sempre inconstante, tempera-mental e acima de tudo doce, tão doce que preferia o amargo.
Uma montanha de açúcar, que derrete com a chuva, adoça os boeiros da cidade. Mas quem irá beber dessa água?
Perguntava para si mesma se as coisas iriam continuar, se permaneceria sem rumo, a admirar as coisas tão pequenas e esquecidas.
Se iria enfrentar seus demônios de vez, em vez de acompanhá-los. Se deixaria de permanecer oculta, pois tudo é permanência, tudo está fixo em seu coração; por anos, sempre a aguardar, mas é tanto tempo, apenas é e pulsa cansado.
Suspiros; parece que falta ar, parece que falta alguém para roubar o ar.
Chamas envenenando minha essência, essa tarde não quero mais ser terceira pessoa.
Quero união, estou cansada de colar fragmentos de emoções do passado.
Passar crepúsculos e crepúsculos alegre com o que vem depois, em vez de diminuta sonhar apenas com a aurora.
Espero que isso não passe de uma confidência surreal, sem sentido e sem efeito. Como outrora continuo querendo a simplicidade.
Flores, campos, montanhas, apenas momentos de luz.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Outono

Sentou-se no banco frio, repousou o rosto sobre as mãos quentes.
Como um porto, chegadas e partidas, e tantas partidas.
Sozinha;
a esperar pelas alvoradas mornas.
a esperar por doces noites...
mas estava sozinha, mesmo diante de tudo.

"y siempre ella estaba en el muelle
esperando
Muchas tardes se anidaron
se anidaron en su pelo
y en sus labios."

sábado, 18 de setembro de 2010

Uma parte de mim ficou lá, entre as sobras, entre os sorrisos amargos.
E o que eu mais desejava apenas pulsava, aqui dentro; calado.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ensopada


Dançava a colher ao redor do prato de sopa, fria. Seu olhar se perdia por entre as ondas que seu prato quase vazio fazia (ou quase cheio para os otimistas). Sentia arder o peito, mas nada dizia. Colocou as mãos por entre os cabelos embaraçados e baixou a cabeça. Sua lágrimas se misturavam a sopa, sua face aos poucos ia ficando ensopada. Soluçava, tremia; era inércia, a falta de vontade de continuar. Todas a olhavam horrorizados, como se fosse uma epiléptica. Ridicularizavam-na, pouco se importavam se realmente estava bem. Olhavam, apenas olhavam, mas não viam nada, não enxergavam a natureza de tal situação anímica. Era ela, somente ela, sua dores, seus conflitos internos, sua ressaca moral. Ergueu o rosto, lambeu os lábios, sua sopa ainda tinha um bom gosto, misturado a pele morta, lágrimas salgadas, sebo. Era como saborear uma sensação, um momento. Mas não passava de abstração. Fechou os olhos por um lapso segundo, sorriu insanamente, balançou seus cabelos rebeldes. Queria desaparecer sem esforço. Quem era aquela ali? Ainda lúcida, porém corrompida pela loucura. Levantou, foi até o toalhete, lavou toda a arquitetura da sua face, toda a sua identidade, como quem apaga as digitais em um crime. Sim, ela cometia um crime, um crime sem sangue, apenas mágoa. Colocou seu batom carmim, tirou as pílulas de sua pequena bolsa chinesa. Sem se preocupar com seu estômago, engoliu três depressa, passando com dificuldade pela faringe. Disfarçou as olheiras e saiu porta a fora. Era um inverno cálido, típico lá fora. O frio doía-lhe até os ossos. Vestia apenas um casaco surrado e uma camiseta escrito "The Beatles", que comprara no mesmo restaurante em que estivera a pouco segundos. Chovia, chovia muito, um tempo aborrecido, mas a sensação de alma lavada perdurou por algum tempo, e ela pensou o quanto a vida é simples, o quanto o prazer de escutar a chuva, o vento forte lhe fazia feliz. E ela esteve tanto tempo de costas.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

E todos dias são os mesmos

Não importa quanto tempo passe; todos os dias a mesma dor, a mesma falta, o vazio a parte. Resumo em anos-luz. Tudo que sinto agora é passado. Mas em que velocidade estou?

"Sinto a falta dele
como se me faltasse um dente na frente:
excrucitante"

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Dias indiferentes

Tem dias que nada o incomoda. Não importa se seu café está quente ou frio, amargo ou doce. Se as pessoas o ofendem. Tem dias que pensar é demais, que se expor é luxo. É inexplicável ou naturalmente comum. Tem dias que eu prefiro que outros falem por mim.

"Tenho tentado aprender a ser humilde. A engolir os nãos que a vida te enfia goela abaixo. A lamber o chão dos palácios. A me sentir desprezado-como-um-cão, e tudo bem, acordar, escovar os dentes, tomar café e continuar." Caio F.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

La vie quotidienne

Como um rio
Apesar de todas as direções
Deságua, desaba
em um só lugar.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O eterno

Olhou de baixo da cama. Procurou nos armários, nas gavetas, no porão. Acendeu uma velha apesar do final de tarde ensolarado e procurou novamente embaixo da cama. Onde será que tinha colocado?
Fixou seu olhar sobre a janela que dava para o mar, as ondas faziam uma dança sublime sobre o começo do crepúsculo. Fechou a porta atrás de si e debruçou-se sobre a mesa. O café já estava pronto e não havia ninguém para acompanhá-lo nessa atividade tão prazerosa e ao mesmo tempo solitária; era o seu café das cinco.
Novamente seus olhos se voltaram para o mar e lá se esqueceu das horas. Depois de algum tempo voltou a procurar que tinha sumido. Percorreu a sala fria olhando na estante, no cinzeiro, debaixo das almofadas, do sofá, e ainda assim não encontrou nada.
Decidiu esvaziar a mente, ficou por horas procurando e por fim esquecera o que havia perdido.
Fechou os olhos e tentou lembrar o que ocorreu nos dias anteriores a ponto de descobrir sua agitação, algo que não acontece na sua trajetória sistemática pelos campos de Yorkshire.
Sua vida se resumia em uma boa caminhada pela manhã até a feira mais próxima de sua casa, e lá se deliciava com as verduras e frutas fresquinhas, e viajava a lugares incríveis (sem sair do lugar) apenas sentido o aroma das especiarias de cada tenda.
Mas algo mudou em sua rotina; algo que não se recorda, apenas está arquivado na sua mente, e a procura é a sua obrigação, mesmo não tendo certeza do que está a procurar...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Não choro mais

Vai passar,
ele disse.
Mas quem se importa? Tudo passa e o resto?
Viver tudo para que um dia simplesmente passe.
O homem com seu terno azul marinho passou correndo, mas elegantemente arrogante; sentou-se na primeira cafeteria que encontrou e baixou a cabeça.
Chorou como uma criança de seis anos que se perde dos seus pais; pois ai está, ele estava perdido, perdido em linho; e por fim o que perdeu mesmo foi a linha, a linha dos seus pensamentos. Andava em trilhos no trem da boa vida.
Soluçava mágoas de dez anos atrás, soluçava arrependimento. Um homem sozinho é uma besta ou um deus?
Pouco se sabe da vida, o que ela reserva para os corações sonhadores, para os ingênuos, ou mesmo para os céticos.
O que se sabe é que um dia as coisas desmoronam e depois você se edifica, seja com cimento, seja com sangue.
Então, ela correu; correu para longe em seu vestido tão gasto. O vento em sua face despertava sorrisos de liberdade, de intensidade, de amor.
Sorriu como uma criança de seis anos que encontrou os pais dos quais se perdeu por alguns minutos; pois ai está, ela estava perdida, perdida em seu vestido velho, mas sabia o caminho para casa.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Bonequinha de Luxo

Estou tentando ser feliz; uma felicidade discreta, talvez me esforçando para não desanimar tão facilmente...isso é o que mais faço. Procurando livros, cadernos, entre outras coisas, encontrei um pequeno caderno que escrevi quando tinha doze anos, e ele dedicava aos meus futuros filhos, difícil de acreditar que já queria ser mãe naquela época. Mal lembrava de tal fato, e uma das poucas coisas que coloquei lá, estavam fotos das famosas de antigamente como Audrey Hepburn, e escrevi em baixo que seria um dia "igual" a essas divas. Não mudei muito posso dizer, mas sempre fugi de mim mesma. E agora o que mais quero é voltar, pra esse tempo de sonhos, onde apenas as musas do cinema invadiam meus pensamentos.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O vale das almas errantes


É da nossa natureza nos separarmos e fazer de tudo distância.

Dos nossos sonhos só restou pó; do nosso desejo sobrou esperança.

Éramos o que devíamos ser, mesmos desconcertantes algumas coisas nos satisfaziam; livros e cafés, por exemplo. A insônia também fazia parte de nossos dias solitários, e isso muito agradava. Gostávamos de observar as estrelas e pensar, pois o que mais fazíamos era pensar.

Caminhávamos quando a dor se tornava aguda nos dias de chuva, e cada gota do céu nos mostrava o abismo em que nos metemos...e talvez por um longo tempo, ou até quando suportarmos a ausência.

A ausência de interesse, a ausência de ânimo, a ausência de paixão. Tudo era quase nada.

E lá estávamos outra vez, e não pela última, se os ventos não errassem a direção...

Mas o que procurávamos? O que era realmente o vazio? Será que seríamos plenos do que desejamos e não tem nome?

Um caminho de pura trevas percorreremos, e quando estivermos cansados e absolutos de nossos erros, talvez parássemos pra pensar, pensar no que fizemos até agora, pois nossa história é feita de letras de areia.

Continuar vale a pena?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Pathetique

Todos colaboram para a minha solidez, de certo modo. É algo involuntário, mas acontece. Tenho vontade de chorar todos os dias e não choro; me sufoco cada vez mais em meus devaneios. Não me sinto só, me sinto triste. Tenho todas as coisas que preciso e isso é tudo. Gostaria de escrever um diário e todos os dias seriam os mesmos; é por isso que não escrevo. Os anos passam e apesar das experiências, me descubro, ou melhor, confirmo minha existência destituída de sentido. Consigo que as coisas fiquem sãs por algum tempo, ou pelo menos que aparentem adequadas a rotina, e por fim elas desmoronam. E nesses momentos de desespero encontro um pouco de autenticidade em meu ser. E a única palavra que me corrói, que atiça os meus antigos receios é a solidão. Solidão nessa madrugada enquanto sonho e os sonhos me pertencem. Essa segurança me agrada; ninguém pode ver o que sonho, com quem sonho ou que me assombra. Fora isso nada me pertence, e tudo é tão efêmero. Gostaria de me fazer entender...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Devora II

Daniel observava pela janela do velho prédio que decidiu fazer sua morada. Tantos anos se passaram e seu coração ainda se sentia tão agitado. Desde aquela noite estranha algo havia mudado sua simples rotina; algo que seu forte espírito pode perceber.
De seu frio quarto olhava através da janela da sua alma, enquanto as estrelas estavam sendo tocadas pelo silêncio. Ele fechou os olhos, sorriu nas sombras e esperou.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Alemanha

Aqui estou
de volta
a gélida e carente Alemanha
senti falta do seu aroma
das ruas tristes
das casas amorosas
ah, os telhados!
esses telhados que te tornam única
tão especial a esses olhos virgens
te guardo aqui no bolso
um cartão postal
uma lembrança
nas minhas memórias de sangue
na minha doce paixão por ti.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Passam as estações;
a mais fria, a mais amena
mas, são nas noites mais quentes de verão
que o meu coração frio
repousa em seu sombrio desejo.