segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pérolas Vespertinas III

Doce e sombria tarde. Já me esqueci o quanto admirava as tardes, ensolaradas. Agora só vejo o cinza dos meus dias, e a chama dos meus desejos. São os contrastes que me mantém viva, são os contrastes que ardem...
Olhou-a de longe, o garoto dos lírios já havia caído da escada, só restava aquele olhar curioso; faminto. Só de pensamentos não poderiam mais viver.
Tardes em vão passou a esperar, tardes sonhava com as mais sutis palavras, com os mais tímidos olhares, mas tudo tão intenso, tudo tão íntimo.
Coisas efusivas lhe irritavam, coisas demais lhe irritavam. Gostava da sincronia das coisas, aquilo que não precisa ser dito, era só questão de sentir, era só questão de sorrir.
As borboletas ainda estavam ali no estômago, sua boca ainda sangrava, ainda dançava o mesmo tango descompassado, ainda as notas de piano martelavam em sua cabeça...sentia bons ventos.
E gostava de repetir as palavras, para que o seu cérebro memorizasse, para que não esquecesse.
O céu, céu, céu, céu, céu; olhava para o azul, as nuvens, sentia o aroma de uma tarde linda que contemplava sozinha. Agora é só saudade, falta, ausência por cada canto, mas ainda tinha verdes esperanças.
Era uma pedra, muitos diziam uma "pedra preciosa", sim, preciosamente perigosa. Sempre inconstante, tempera-mental e acima de tudo doce, tão doce que preferia o amargo.
Uma montanha de açúcar, que derrete com a chuva, adoça os boeiros da cidade. Mas quem irá beber dessa água?
Perguntava para si mesma se as coisas iriam continuar, se permaneceria sem rumo, a admirar as coisas tão pequenas e esquecidas.
Se iria enfrentar seus demônios de vez, em vez de acompanhá-los. Se deixaria de permanecer oculta, pois tudo é permanência, tudo está fixo em seu coração; por anos, sempre a aguardar, mas é tanto tempo, apenas é e pulsa cansado.
Suspiros; parece que falta ar, parece que falta alguém para roubar o ar.
Chamas envenenando minha essência, essa tarde não quero mais ser terceira pessoa.
Quero união, estou cansada de colar fragmentos de emoções do passado.
Passar crepúsculos e crepúsculos alegre com o que vem depois, em vez de diminuta sonhar apenas com a aurora.
Espero que isso não passe de uma confidência surreal, sem sentido e sem efeito. Como outrora continuo querendo a simplicidade.
Flores, campos, montanhas, apenas momentos de luz.

Um comentário:

Anônimo disse...

uma montanha amanteigada que derrete com o calor do sol vai matar a fome dos tantos lares onde só há pão seco

ass: pri