...em pleno inverno, pois o dia 28 de maio para eu é inverno! Romances bobos, vinho e doces de confeitaria era o que estava em minha mente, mas na verdade, trata-se de uma segunda-feira de trabalho sem ter nada o que fazer a não ser imaginar encontros românticos e conversas filosóficas como preliminares. Ao mesmo tempo que a diarista sonha com um antigo amor da Espanha e toca Marisa Monte no rádio. Há alguns minutos atrás fui comprar meu almoço em um mercado absurdamente caro, que fica em uma rua repleta de características burguesas: lojas caras, Yoga, centro de estética, nada muito funcional. O telefone toca (corro)...marcar limpezas de pele e depilação não me deixa nem um pouco satisfeita ou feliz (tem diferença?). Trabalhar não me alegra, pois sempre fico pensando nas inúmeras possibilidades de coisas que poderia estar fazendo, e então imediatamente lembro que sem dinheiro não iria conseguir fazer absolutamente quase nada. Tudo isso se passa enquanto tento entender o tal quadrado de Punnet ao som de Zezé di Camargo e do polimento do carro da lavanderia ao lado. E o mais engraçado disso é que estou em um ambiente repleto de mulheres que gostam de ler colunas sociais, acham tudo da Carmen Steffens maravilhoso e só pensam em transar com caras ricos, enquanto eu tento conceituar cultura depois de ler um livro de introdução a antropologia. Tudo bem que uma vida de intensa leitura e sem sexo não se compara a roupas caras, carros luxuosos, festas e flashes. Não consigo me livrar da estranha mania de acreditar que um dia estarei em uma casa decorada por mim, cheia de elementos que me lembrem todos os bons momentos da minha vida, ao lado de alguém que eu tenha liberdade para falar o que bem entender, com que eu posso passar madrugadas conversando e tomando um bom vinho. Para quê mais? Isso é semiótica. Sem mais explicações. O mundo já é cheio delas; há explicações porque você deve continuar no seu emprego, em um relacionamento, numa faculdade, até mesmo quando tem que pegar um ônibus. Um ciclo, sistema, lógica, padrão. Já estamos desgatados com isso. Mudar de cidade, distante da família, dos amigos, caminhando por ruas nuncas antes pisadas, comendo em lugares que você não conhece, itinerários novos, economia geral, divindo o apto com estranhos e se estranhando, com uma sensação de solidão percorrendo todos os cantos, além do anonimato, é assustadoramente perfeito.
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