sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Devora I

Daniel olhou-a pela primeira vez; não, não foi amor à primeira vista, foi cegueira. O seu manto carmesim trouxe-lhe lembranças: talvez adormeceu algum dia nos braços dela, talvez há três séculos atrás, milênios, ou era apenas o desejo? Sentia sua pele estremecer ao encontro com a mão dela, como se as linhas da própria lhe mostrassem o destino, ou quem sabe estava marcado em seu palmo a maldição que os afastava, o caminho que os unia e a rua que os separava.
A sombra da solidão era sua morada. Sim, tivera muitas mulheres, mas ansiava pela que nunca teria...ansiava seus olhos negros, sua boca indecisa, seus cabelos quando ficavam vermelhos ao sol.
Se ele a amava? Ah, sim o amor! O que seria o amor para eles? Toque, palavras, alguns gestos?
Daniel diria que estava preso em um tempo sem horas, agarrado aquele dia em que a neve se misturava ao sangue, ou o contrário?, quando beijava os lábios que ainda estavam quentes e vermelhos da mulher do manto carmesim que tarde demais descobriu que amava. Mas a visão desaparecera, ao despertar do transe, olhou- a novamente, mais parecia uma criança bem crescida, mas tinha olhos ferozes e o sorriso encantador...então tudo ficou claro. Quando ele iria chamá-la pelo seu nome verdadeiro, as brumas a envolveram enquanto caminhava para o nunca.