quarta-feira, 25 de julho de 2012

"Seu estado de espírito precisava da solidão e do silêncio que só a multidão pode dar"

(Anne in: Persuasão, Jane Austen, Ed. Martin Claret, p.523)

sábado, 7 de julho de 2012

Nunca escrevi um diário, bem já escrevi algumas coisas, mas a consistência dessas coisas não expressavam sentimentos, fatos importantes, impressões. Quando lemos um livro que gostamos, não lembramos de todos os detalhes, das frases ditas pelos personagens, mas é possível voltar naquelas páginas e encontrar o que nos tocou, o que gostaríamos de memorizar ou mesmo destacar em um pequeno pedaço de papel. Um diário seria mais ou menos a mesma coisa, talvez um pouco diferente, só que estaria escrito fragmentos, idéias, pensamentos que flutuam pelo nosso cérebro para longe, mas com o tempo estão meio perdidos com tantas responsabilidades, compromissos, outras emoções. Como iria lembrar daqui a dez anos da sensação de um abraço em meio ao som  dos trilhos do metrô refletindo distância tão literalmente quanto de forma imaterial, um adeus coincidente, perfeito com a situação; ou a expressão natural de tristeza das pessoas em um velório em que você brinca ao redor do caixão sem entender bem o que estava acontecendo, pois tudo ainda era tão novo e mundo estava tão acima; da saudade, Deus meu, que sensação, o som do vento, a tonalidade das tardes, o modo como a chuva caía, o formato do sorriso, os telefonemas, os cafés, encontrar a casa vazia, escutar a voz de alguém especial quando ainda nem havia acordado, as surpresas, convites, a maresia, cartas, cartões postais, as ruas, a solidão. Essas coisas pequenas são perpétuas. Muitas vezes tenho a sensação que tudo o que gosto, o que faz parte da minha identidade, jamais verei de novo, de forma que eu possa dar mais valor as pessoas. O vazio é tão grande, e você pensa no que fez, no que não fez, e o quanto isso irá lhe acompanhar pela vida inteira; às vezes isso me sufoca. Se estivesse conversando com um analista eu diria que o meu maior medo é da perda e da consciência dela, porque a partir do momento que eu pensasse que eu não poderia fazer absolutamente mais nada, isso iria me arruinar de tal forma como uma casa destruída; aqueles blocos sólidos em total desarmonia em que você olha e só pensa em tirar aquela coisa imperfeita, confusa dali. Vivo em um momento de desconstrução, talvez meu maior medo não seja da morte e toda essa coisa seja uma forma de exteriorizar as impressões que possuo; estou submersa em muitas possibilidades que se misturam a liberdade, vícios de emoções e pensamentos, desde pessimismo, esperança, desatenção, desejo, desapontamento, falta de interesse, devaneios, cansaço, cansaço, cansaço, cansaço. Há tantas coisas que me motivam a viver e coisas que em  momentos desatentos me fazem mal, e isso é tão forte quanto as coisas que podem lhe trazer mais significados. E esse é o problema, procuro significado desde o pão que compro até na escolha do meu sabonete, como se alguém estivesse interessado no modo em como eu não coloco açúcar no café, ou quando eu me sinto absurdamente feliz quando um livro está escritos coisas que eu sinto, mas daquela forma estranha, difícil de entender a primeira lida, mas está lá, sensível, pontual, incrível, temos em nossas almas a mesma impressão, ou enquanto escuto Nina Simone desarmonicamente com tudo isso.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Não sou irresistível

Me visto com idéias, pinto minha face com sonhos.
Já se foi o tempo que a mulher era um esboço,
uma folha em branco, ou qualquer coisa mutável.
Minha identidade não precisa de cores, laços, saias apertadas.
Sou parte do tempo e me moldo conforme minhas convicções
liberdade não é escolher, apenas ser.