sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Uma


  1. Olhou para foto, novamente mais uma foto ruim. O vento da cidade não deixava nada permanente, tudo era arrastado de um lado para o outro, assim como seu cabelo. Tirar uma foto 3X4 significava mudanças, era por isso que estava preocupada. Havia passado semanas pensando no tipo de coisa que a faria feliz, não uma felicidade longa, mas tranquila, sem muito tumulto, sem sofrimento, porque pra ser feliz também é necessário sentir dor. Ela estava próxima da gaiola da felicidade, seus passos somente eles lhe acompanhariam durante o dia, e todas as coisas que faziam dela o que era iriam se modificar, não seria mais preciso utilizar suas máscaras, elas seriam substituídas por outras, essas sim lhe mostrariam o gosto real do tempo. Anotou alguns lugares que deveria visitar, se apresentar e utilizar toda a esperteza para sobreviver. Estava ansiosa, animada e enjoada. Felicidade é a mistura de todas as coisas, as boas e as ruins. Não sabia o que lhe iria realmente acontecer, se iria sorrir futuramente ou chorar, mas algo iria acontecer, e isso já bastava. 
  1. Ficou imaginando por dias as possibilidades que lhe desenhavam a sua volta, imaginou a sua vida de diversas formas. Primeiro decidiu pensar que deveria ser sempre sincera e autêntica, sem tentar persuadir ou tomar uma imagem que não é sua; também pensou em manter o silêncio, falar quando necessário, algo entre uma atitude passiva estudada; e sim sempre havia sua versão meio demente, onde a loucura teria espaço e a sua opinião também, como encarar a vida sem medo. Ás vezes em sua cabeça havia uma voz que lhe dizia pra ela continuar, mesmo que todas as portas fechem, mesmo que as conversas acabem em não, ela devia colocar seus sonhos em primeiro lugar.  Ou quando  forças opostas lhe diziam coisas que ela poderia escolher.
  1. Momentos como aquele em que sentava no banco de uma praça qualquer, olhava para as pessoas e ficava imaginando o que as levaram até lá, se estavam pensando em seus filhos, no conforto da sua casa, em alguém que morreu, se estavam pensando como eu em que tipo de substância é feito o pensamento, e se alguém em algum lugar poderia estar sentindo o mesmo. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Assim que fecho os olhos e tomo consciência do meu corpo penso na ausência. A energia que me rodeia inebria, é sutil, plena, entorpece, a ausência também. Meus sentimentos são repletos de dualidades, bebo com carinho seus significados tanto quanto aprecio um bom vinho e suas notas. Carrego em meu peito as horas do passado, as sensações da alma que são atemporais. São apenas delírios que me colocam para dormir. E lá estava novamente cercada pela fumaça dos sonhos, sua forma, sua textura, poderia até sentir seu gosto seco e quente. Mas acontece que sinto a ausência das coisas tangíveis quando fecho meus olhos e quando os abro não há nada lá para olhar. Quando penso na ausência naturalmente associo a pessoas, são extensões de sentimentos, de motivos, das relações. E o que não posso medir? Posso delinear teu corpo, teu rosto, posso segurar as tuas mãos, mas tua essência me transpassa assim como água.