quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Passou os dedos pelos fios azulados de seus cabelos que teimavam a ficar tão adequados ao formato daquela cabeça tão pensante. Seu coração pedia mais, pedia o que não sabia, pedia sem pedir saber, apenas pedia, e dava pra sentir isso no seu suspiro cansado. Tocava o que via pela frente, distraía-se, enquanto o que mais precisava era de amor. Não amor de homem e mulher; era um desejo hermético de amor. Ela lhe falava coisas irrelevantes, sua natureza mística acaba por se misturar as conversas sobre a loucura. Havia um medo ali, o medo da loucura diante da loucura dos outros. A loucura de acreditar no que fosse, mas entregar-se a isso sem medo. Não era próprio dos dois. Não obstante afundarão as cucas nos livros a ler histórias que nunca contarão; nas músicas que falam de amores que não são seus; nas meditações em estados de espírito que não conquistaram, e em tudo que for resultado de boas experiências (arriscar-se). Se ela pudesse arrancaria as duas almas, lavaria muito bem, a esfregar bem o medo pra que fosse todo pro ralo, e depois colocaria-as bem estendidas no varal. Escorreria todo o desabor que se esconde nas entranhas, os resquícios de solidão.


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