quinta-feira, 26 de maio de 2011

"E como é difícil ser expontâneo", repetia para si mesmo. Andava meio atrapalhado por aqueles dias, parecia que tudo que estava estável, quieto e tranqüilo havia se dissipado enquanto observava as pessoas pela janela do ônibus. Pensava: "de repente nos vemos parte do mundo, mas não como participante, mas como observadores, e logo não vejo sentido na vida, não que ela não tenha sentido como muitos afirmam, e sim que ela tem um sentido o qual não estou refletindo, o qual não estou vivendo". Era assim que se sentia naquele momento, fazia as coisas porque tinha que fazer, jurava que fazia o que queria já que tinha livre arbítrio, mas sempre tinha que pensar em uma forma de ganhar dinheiro, credibilidade e confiança.

Olhando por este ângulo não se sentia livre, pois por mais que sua mente já tivesse se desapegado a muitas idéias que nada acrescentavam sua busca pela liberdade, ainda sim a palavra liberdade só tinha um significado bonito no dicionário, pois na vida a liberdade tinha muitas faces. Escolher o que comer, o que vestir, o que falar, como andar, como sorrir, o que escrever, que ônibus pegar, que livro ler, que caminho escolher, em que cadeira sentar, que esporte praticar, que música ouvir, que perfume usar, que pessoas conhecer, que lugares viajar, o que comprar, etc., a infinidade de coisas que compõe o nosso universo pessoal, tudo isso temos livre acesso. Livre acesso? Se pensarmos por um lado temos livre acesso porque todas as coisas que estão no mundo logo pertencem a nós, já que não tem nenhuma lei que diga que não podemos pisar na terra, respirar o ar, sentir o vento, tocar na água, enfim viver a complexidade do nosso sistema. Mas tudo o que foi dito anteriormente não depende do que foi dito posteriormente. Nem tudo que há no mundo nos pertence. Então ai entra a tal da liberdade que eu falei anteriormente ao anteriormente do posteriormente já citado.

O nosso pensador do começo do texto nos diz: " logo quando penso em sentido, penso em liberdade, liberdade é um sentimento, um ato, é algo prazeroso, algo como "não quero fazer isso hoje" e não fazer, mas isso não é o suficiente quando penso na sua significância". Mas procede: "hoje quando estava olhando as coisas ao meu redor pela janela do ônibus, resolvi colocar em prática tudo o que vivia pensando, aliás penso muito e faço pouco, enfim, olhei para o céu explêndido da tarde e o silêncio que emanava daquela imensidão azul foi sendo refletido no meu espírito. Achei muito doida tal situação: imaginei o caos do mundo, a primeira coisa que pensei foi nas crianças passando fome, não gosto de ver crianças sofrendo, acho que não são responsáveis por tudo que lhes acontece, simplesmente não suporto a idéia de vê-las sofrendo, e ao mesmo tempo pensei na paz que havia no céu, as duas realidades vivem se tocando, a vida terrestre tão pertubada e o céu tão sereno. Achei aquela situação incrível e extremamente simples. E por fim minha alma ficou feliz. E decidi tentar me alegrar sempre apesar de todas as coisas que estão para acontecer, que aconteceram ou não aconteceram e acabam por enfraquecer nossa alma, nos deixarmos mais tímidos diante do mundo ou mesmo deprimidos."

Nós temos liberdade para sermos, não é a toa que temos médicos, professores, enfermeiros, geneticistas, programadores de jogos, dançarinos, advogados, padres, freiras, hippies, profissionais do sexo, restauradores, garçons, artistas plásticos, músicos, jogadores de futebol, pedreiros, carpinteiros, cientistas...mas o que nos leva a escolher o que ser, pois este ser...depende de eu não continuar esse texto e tentar conceituar tudo o que escrevo. Pois para escrever deveríamos ter muita liberdade, principalmente a de não sermos coerentes. Coerência é algo que também não pretendo conceituar.

Um comentário:

Kleydson disse...

Se do jeito como a coisa está já está perfeitamente complexa, imagina com a conceitualização de coerência?

Deixa... deixa para cada um pensar o que pensar...