"Aqui estava eu, pensei, metido em mais um hotel no outro lado do mundo, sem um rosto amigável por perto. Respirei fundo e recordei novamente o aviso do Wil para me manter alerta, lembrando a mim mesmo que ele falara em procurar as voltas sutis da sincronicidade, aquelas coincidências misteriosas que podiam surgir num segundo e empurrar a nossa vida numa nova direção." (O segredo de Shambhala - James Redfield - p.10)
Acordei com o corpo restabelecido mas com a mente cansada. Olhei para o lado vazio da cama e me veio a adorável sensação de abraçar alguém que se ama, então lembrei que pouco permitir liberar esse amor. Era a segurança dos feridos (enganosa). Aos poucos descubro a importância do amor e que sem ele a vida não faz muito sentido. Tenho me metido em situações doloridas; sim eu não estou satisfeita, estou esperando erradamente alguém para me salvar. Esperar que alguém ou algo te salve é transferir a responsabilidade pelo rumo da tua vida e faço isso o tempo todo. Não adianta culpar meus pais pela minha instabilidade emocional ou egocentrismo do outro nas relações, não adianta eu ser bonita, inteligente ou mesmo interessante se não estou receptiva para compreender o significado do que me rodeia. Quando começo algo novo logo penso no futuro, é um pensamento viciante e talvez motivo de eu largar tudo que inicio. Percebi isso ontem ao entrar em mais uma experiência em busca do conhecimento com outras pessoas, e me imaginei no futuro, mais inteligente, mais lúcida e confiante, mas somente aquele momento era real e deveria dar tudo de mim, talvez essa era a garantia de algum futuro próspero.
Não compreendo de que forma nós ajudamos uns aos outros, mas há essa coisa maravilhosa em conhecer pessoas e ao se dividir, compartilhar, confessar impressões particulares de ver o mundo tanto se descobre! Algo me foi dito, e o fato de sair de outra mente, que passou por experiências tão diferentes da minha é de certo modo revelador, não tenho uma outra boa palavra, o que me foi dito ficou muito bem gravado e serviu para repensar minha postura diante as possibilidades que a vida apresenta. A frase foi a seguinte: "muitas vezes damos sem querer o pior de nós". A sensação de ler ou ouvir algo assim é a mesma quando alguém descobre um segredo que você esconde muito bem. Sua fantasia não serve mais.
Quando me mudei pra Florianópolis, segunda cidade que iria morar em menos de dois anos desde a primeira vez que saí de casa, eu sabia que coisas iriam acontecer na minha vida e esperava o melhor. Mas logo na primeira semana não ocorreu o esperado, na verdade ocorreu exatamente o que eu esperava e isso foi em relação ao trabalho, e esse foi o começo de uma desestabilização emocional. O que eu não sabia e nem podia imaginar, por isso que a vida é tão interessante e faz sofrer, é que entraria em uma crise existencial logo em alguns meses e que choraria muito mais do que eu costumava chorar. As formas que sempre me protegi dos outros utilizando a solidão estavam em colapso. No último ano virei um ser assexuado e de poucos amigos, o que não é nada saudável para uma menina jovem e de corpo perfeitamente usável como o meu para o sexo. Ao me fechar para o sexo, eu me fechei para a vida e isso explicava muita coisa. Não que seja o real motivo, mas era um fator importante. E a minha crise continuou desse ponto e por mais que olhasse torto, pois faço isso quando nego a verdade que existe em mim, resolvi dar uma atenção para alguns aspectos da psicologia Freudiana. Chamaria isso de encarar o labirinto que existe em meu ser? Estou nele, talvez tenho parado em algum ponto e meditado, buscando alguma resposta dentro ou mesmo algum questionamento para passar alguns meses refletindo. Me sinto presa em uma música da Tori Amos.
"Oh these little
earthquakes
Here we go again
Oh these little earthquakes
Doesn't take much to rip us into pieces."
Paciência é uma coisa muito importante e manter uma postura serena é ideal, desde que ela não esconda coisas que lhe magoam. Passei muito tempo negligenciando as coisas que me aconteciam e mostrado uma postura desinteressada quando me feriam, a ausência de comunicação me trouxe sérios problemas. Tenho tentando me libertar dessas formas de levar uma vida com algumas pequenas mentiras e omissões, a verdade é que não suporto mentiras, mas meu silêncio tem causado alguns danos. Sempre me amarrei as pessoas e continuo fazendo isso, nunca soube dosar muito bem o que deveria falar e em que situação, pois não queria ferir ninguém, mas esse tipo de atitude não é saudável.
Não lembro qual motivo me levou a procurar o budismo, só recordo que era começo do ano e nessa época estou propensa a procurar coisas que me inspirem levar o ano que está por vir. Fui em uma palestra com Lama Padma Samten em Garopaba e lá apesar de não conhecer ninguém, me senti muito a vontade e a energia do lugar me deixava tonta. Aos poucos fui introduzindo algumas leituras e práticas de meditação do budismo. Vieram muitas frustrações, fiquei deprimida, me senti um ser humano muito ruim e apegado. Larguei por um tempo as leituras, fiz várias tentativas para começar a praticar continuamente, mas a coisas são assim, tem seus motivos para acontecerem da maneira que não esperamos. Desde que meu primeiro contato com o budismo em torno de dois anos atrás, eu pouco percebi seus benefícios na minha vida. A maneira como as coisas se delineiam na nossa rotina algumas vezes toma uma forma que não somos capazes de compreender. Tem sido um processo lento que eu preciso aceitar e abrigar.
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