quinta-feira, 24 de abril de 2008

Réquiem

Ela encontrou a chave, mas não estava perdida.Os pássaros caiam graciosamente depois de manchar o céu de sangue.O sol faíscava enquanto girava em direção ao chão.O claro-escuro da lua paria melancolia noite adentro.Escalas ascendente e descendentes confundiam tormentos e doçuras.Os rostos deformados, os sorrisos aquáticos, os olhos petrificados pela imensidão do que não se pode ver.Há tanto perigo entre as mentiras, as sombras de desejos flamejantes, as inúteis sensações, os sabores ao vento.Um ponto nulo entre a eternidade do eu e o não sei quem sou, e talvez nunca vou saber.As relações violadas, as promessas que seriam quebradas se fossem feitas, aqueles beijos que só serviram de cumprimento.E aquela singular pontada no coração de que tudo não será como antes, como se não houvessem datas, horas, tempo, ou pessoas favoráveis a essas sensações.O vazio tão preenchido de dúvidas e notas que não param de tocar.As danças infinitas nos bailes da recordação.A orquestra de músculos que se esforçam para esconder a verdade, aquilo que é real, o que é tocável.As lágrimas salgadas dizendo um adeus sem palavras, sem antes mesmo de começar.As palmas invadindo o teatro sem terminar a peça.As risadas sem nenhuma graça.As cores sem tonalidade.Os vestidos noturnos em corpos desnudos cheios de histórias para contar.As mãos!Como são maravilhosas, o seu poder, a sua sensibilidade.É só tocá-las pra saber o quão é extraordinária a vida, e que sem seu toque não seríamos nada.Não somos nada.Não sou nada sem tocar nos meus sonhos.

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