sábado, 5 de janeiro de 2013

A foda sem zíper



"... Para a verdadeira e definitiva foda sem zíper de primeira classe, era necessário que você não viesse a conhecer o homem muito bem. Eu havia notado, por exemplo, que todas as minhas paixonites se dissolviam tão logo eu me tornava realmente amiga de um homem, começava a compreender seus problemas, ouvia suas queixas com relação à esposa, ou às ex-esposas, à mãe, aos filhos. Depois disso, passava a gostar dele, talvez até amá-lo - porém sem paixão. E o que eu queria era paixão... - ... Depois disso, ele se transformava num inseto preso por um alfinete, num recorte de jornal plastificado. Eu poderia apreciar sua companhia, até admirá-lo em algumas ocasiões, mas ele já não tinha o poder de fazer-me acordar trêmula no meio da noite...

Desse modo, outra condição para a foda sem zíper era a brevidade. E o anonimato a tornava ainda melhor.

... Sem zíper, vejam bem, não porque os europeus usem braguilhas com botões e não com zíper, nem porque os participantes sejam tão arrasadoramente atraentes, mas porque o incidente possui toda a rápida compreensão de um sonho e aparentemente está livre de qualquer remorso e culpa; porque não fala do falecido marido ou da noiva do soldado; porque não existe racionalização, porque não há fala nenhuma. A foda sem zíper é absolutamente pura. Livre de motivos ulteriores. Não existe jogo de poder. O homem não "toma" e a mulher não "dá". Ninguém tenta cornear um marido ou humilhar uma esposa. Ninguém procura provar nada ou arrancar algo de alguém. A foda sem zíper é a coisa mais pura que existe. E é mais rara do que o unicórnio." 



(Capítulo: A Caminho do congresso dos sonhos ou a foda sem zíper extraído do livro  "Medo de Voar", Erica Jong)

Um comentário:

Anônimo disse...

Tô cansada dessas fodas limpinhas, a apoteose da assepsia, cansada dessa trepada blasé refinada.
Gosto é da foda sem zíper, proletária, suada e mal-paga, porém feliz